A famigerada canção ‘What a Wonderful World’ de Louis Armstrong, anteriormente citada aqui em outra ocasião (relembre!), hoje aparece como ascensão do grupo CDZA, que a partir dela traça um panorama geral da história da música ocidental de forma resumida. O coletivo Estadounidense divulgou um video interpretando a mesma canção em dezesseis formas diferentes, do Canto Gregoriano ao Dubstep, passando pelo estilo Barroco, Rap, Bluegrass, Soul Blues, Metal e mais. Porém, de tão resumida acaba por generalizar e utilizar os cliches de cada estilo musical, as vezes até fugindo da ideia harmonica proposta por determinado estilo.
Conheci uma certa canção há alguns anos atras, mas nunca antes havia comentado sobre ela por causa de preconceito meu, mas não só meu como possivelmente das pessoas a minha volta, por se tratar de um Rap. O preconceito já não existe, claro, e hoje essa canção nem é mais vista por mim dentro de um estilo musical, mas sim como uma poesia critica. Falo sobre uma canção chamada ‘Brasil com P’, por G.O.G. Genial! Essa é a palavra para alguem que consegue transpor todos os sentimentos, sensações e criticas, com o detalhe de todas palavras iniciadas com a mesma letra.
“Pesquisa publicada prova Preferencialmente preto Pobre, prostituta pra polícia prender Pare, pense, por que? Prossigo Pelas periferias praticam perversidades Pm’s Pelos palanques políticos prometem, prometem Pura palhaçada Proveito próprio Praias, programas, piscinas
Palmas! Pra periferia: Pânico, pólvora, pá! pá! pá! Primeira página Preço pago: Pescoço, peito, pulmões perfurados Parece pouco? Pedro Paulo Profissão: Pedreiro Passatempo predileto: Pandeiro Preso portando pó passou pelos piores pesadelos Presídios, porões, problemas pessoais, psicológicos Perdeu parceiros, passado, presente Pais, parentes, principais pertences PC Político privilegiado preso parecia piada Pagou propina pro plantão policial Passou pelo porta principal Posso parecer psicopata Pivô pra perseguição Prevejo populares portando pistolas Pronunciando palavrões Promotores públicos pedindo prisões Pecado! Pena, prisão perpétua Palavras pronunciadas Pelo poeta, irmão. Papai, Papai, Papai! Pelo presente pronunciamento pedimos punição para peixes pequenos, poderosos, pesos pesados Pedimos principalmente paixão pela pátria prostituída pelos portugueses Prevenimos! Posição parcial poderá provocar: Protesto, paralisações, piquetes, pressão popular Preocupados? Promovemos passeatas pacificas Palestras, panfletamos Passamos perseguições Perigos por praças, palcos Protestávamos por que privatizaram portos, pedágios Proibido! Policiais petulantes pressionavam Pancadas, pauladas, pontapés Pangarés pisoteando, postulavam premios Pura pilantragem! Padres, pastores, promoveram procissões pedindo piedade, paciência pra população Parábolas, profecias, prometiam pétalas, paraíso Predominou predador! Paramos, pensamos profundamente: Por que pobre pesa plástico, papel, papelão, pelo pingado, pela passagem, pelo pão? Por que proliferam pragas, pestes pelo pais? Por que presidente? Pra princesinha, patricinha: prestigio, patrocionios, progresso, patrimonios, propriedades, palacetes, porcelanas, perolas, perfumes, plasticas, plumas, paête Por que proessegue? Pro plebeu predestinado: pranto, perfurações, pêsames, pulseira pro pulso Pinga, poeira, pedradas Pagar prestação por prestação Parceiros paraliticos, paraplegicos, prostituição Personalidades publicas poderiam pressionar Permanecem paralisados Procedimento padrão Parabéns! Peço permissão pra perguntar: Por que pele preta, postura parda? Pô Pensador! Pisou, pior, posou pros playboy, pra plateia Peço postura, personalidade, pros parcero, pras parcera Presidente, Palmares proclama, primeiro: Presença popular permanente proposta Pente por pente, pipoco por pipoco Paredão pros parasitas Papai! Patricinha!”
Seguindo a mesma ideia, há um poema do Humorista Chico Anysio, chamado ‘Mundo Moderno’, onde acontece a mesma situação, mas nesse caso todas as palavras são com a letra M. Assim como G.O.G, incrivel tamanha criatividade.
“Mundo moderno, marco malévolo, mesclando mentiras, modificando maneiras, mascarando maracutaias, majestoso manicômio. Meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres, miscigenação, morticínio – maior maldade mundial. Madrugada, matuto magro, macrocéfalo, mastiga média morna. Monta matungo malhado munindo machado, martelo, mochila murcha, margeia mata maior. Manhãzinha, move moinho, moendo macaxeira, mandioca. Meio-dia mata marreco, manjar melhorzinho. Meia-noite, mima mulherzinha mimosa, Maria morena, momento maravilha, motivação mútua, mas monocórdia mesmice. Muitos migram, macilentos, maltrapilhos. Morarão modestamente, malocas metropolitanas, mocambos miseráveis. Menos moral, menos mantimentos, mais menosprezo. Metade morre. Mundo maligno, misturando mendigos maltratados, menores metralhados, militares mandões, meretrizes, maratonas, mocinhas, meras meninas, mariposas mortificando-se moralmente, modestas moças maculadas, mercenárias mulheres marcadas. Mundo medíocre. Milionários montam mansões magníficas: melhor mármore, mobília mirabolante, máxima megalomania, mordomo, Mercedes, motorista, mãos… Magnatas manobrando milhões, mas maioria morre minguando. Moradia meia-água, menos, marquise. Mundo maluco, máquina mortífera. Mundo moderno, melhore. Melhore mais, melhore muito, melhore mesmo. Merecemos! Maldito mundo moderno, mundinho merda”.
A interpretação de Chico no video abaixo serve para preencher as lacunas dadas pela ausência de preposições, artigos e pronomes. Por fim termina o show imitando Louis Armstrong em ‘What a Wonderful World’.