Desconcerto #10 – Judas Priest

Em certos momentos está tudo em perfeito estado, mas nem sempre o corpo fraquejado pela estrada aguenta. Rob Halford, vocalista do Judas Priest, já com 60 anos de idade, passou por um momento no minimo constrangedor para alguem que aparenta sempre intocavel. O Desconcerto acontece em nossa patria, em Brasilia, durante um dos shows da turnê que a banda fez juntamente com Whitesnake.

Judas Priest

Como de costume, Halford adentra o palco do Ginásio Nilson Nelson em uma motocicleta para abrir a canção ‘Hell Bent for Leather’,  mas momentos depois vai ao chão com o peso da moto. Já com uma idade avançada o Músico precisou de auxílio para levantar-se, consequentemente continuando o show, como deveria ser. Apesar da queda, Halford não sofreu nenhuma lesão além da vergonha de cair perante seu publico.

Peace.

Transposições

Hoje acontecem processos de transposição e experimentalismo que estimulam a curiosidade. Arranjos para Harpa apartir da Guitarra, ou de um Sintetizador para um Banjo! O Músico Buddy Greene faz algo (quase) impensável: Medleys de Música Classica na Gaita diatonica em C (dó). Geralmente esse instrumento é usado em generos como Blues, o que causa a estranheza. O talentoso Buddy também canta, compõe e, além da Gaita, toca Violão. Para desmonstrar, Senhor Green se apresentou tocando as seguintes peças: ‘Jesu, Joy of Man’s Desiring’ de J.S. Bach (dó), ‘Mozart’s Piano Sonata’ (dó), Rossini’s William Tell Overture (dó), logicamente fazendo determinadas adaptações e utilizando tecnicas como ‘bend’ quando necessario.

Partindo para o lado rustico surge The Cleverlys, uma banda fundada na tradição Bluegrass. Para quem não sabe, esse gênero é uma variação do Country raiz, criado por imigrantes britânicos nos Estados Unidos no início do século XX, com um som, de fato, caipira e rebuscado.

The Cleverlys

A banda faz tributo a Katy Perry, Shaggy, e até Black Eyed Peas, mas o mais curioso foi a versão para o tema do jogo Super Mario, substituindo a linha sintetica por Banjo, Violão e mais. Nas demais canções eles adaptam as letras ao seu vocabulario, o que deixa ainda mais divertido.

Mas não há necessidade de ir tão longe para encontrar tal processo. No Brasil o jovem Jonathan Faganello ganhou prestigio ao executar uma classica canção do repertorio Heavy Metal da banda Iron Maiden, ‘Fear of The Dark’, na Harpa. Jonathan participou do programa Altas Horas, na Rede Globo, e mostrou que é possivel executar uma peça Popular em um instrumento Erudito.

Para encerrar ainda menos usual que os demais! Os que apreciam Música Eletronica se divertem com ela seja onde for, mas certamente não imaginaram escutar clássicos do Daft Punk como ‘One More Time e Around The World’ no teatro.

Trinity Orchestra

Pois essa foi a ideia de uma jovem Orquestra da Irlanda, intitulada Orquestra Trinity, substituindo os sintetizadores e criando uma nova forma de se tocar as obras Eletronicas. Composta por estudantes, executou na integra o álbum “Discovery”, do duo Daft Punk, no Trinity College Dublin’s Exam Hall. Distinta e não usual performance Orquestral gerando surpreendente resultado. Por Orquestra Trinity, ‘One More Time e Around The World’:

Peace.

Alma talentosa de Jason Becker

Quanto trata-se de uma historia como esta não sei por onde começar, então indago: como seria para um Músico, que tem como maior paixão envolver-se ao seu instrumento, acordar e descobrir que isso não irá muito longe, pois seu corpo está regredindo, impedindo movimentos de mãos, braços, pernas, o levando a um eterno estado estatico, porém consciente? Imovel, e com a angustia de saber que não pode fazer nada a respeito. Jason Becker detem uma historia incrivel e é um dos mais belos exemplos que conheci em minha pequena existencia. Jason é um guitarrista que logo aos 16 anos atingiu a fama com seu virtuosismo precoce. O talento pode ter vindo do berço, pois seu pai, Gary Becker (que em sua vida estudara Violão Erudito), deu-lhe uma guitarra quando ele estava com apenas cinco anos de idade, e consequentemente aulas também. Anos mais tarde Jason conheceu Marty Friedman, e logo uma amizade surgiu devido a similaridade de interesses e preferências musicais. Com a produção de Mike Varney eles montaram o Cacophony, que gravou dois álbuns: ‘Speed Metal Symphony’, em 1987 e ‘Go Off!’, em 1988.

No mesmo ano (88) ele também lançou um disco solo, chamado ‘Perpetual Burn’ (ouça uma das faixas). Cacophony excursionou por vários países, principalmente no Japão e Europa, onde Jason formou uma legião de fãs e admiradores, ao mesmo tempo em que influenciava jovens guitarristas. Aos 20 anos, Jason foi convidado para a banda de David Lee Roth (ex-Van Halen) para substituir Steve Vai, que havia deixado o grupo. Ele começou a gravar o álbum ‘A Little Ain’t Enough’, em 1990, e ganhou o prêmio de “Guitarrista Revelação” da revista Guitar Magazine. Jason, como virtuose, ganhou a famigerada signature Paradise, marca registrada, com ponte microafinada.

Jason Becker Signature Paradise

Mas infelizmente isso não é tudo. As coisas iam cada vez melhores para Jason até que, ainda durante as gravações de ‘A Little Ain’t Enough’, ele começou a sentir uma espécie de fraqueza na perna esquerda. Era o início da manifestação da doença de Lou Gehrig, também conhecida como ALS — esclerose lateral amiotrófica — uma doença degenerativa e incapacitante, ainda sem cura. Embora Jason tivesse concluído, já com algum esforço, as gravações do álbum, tal fatalidade eliminava qualquer condição de sair em turnê com a banda. Recebeu uma expectativa de vida de cinco anos que não se concretizou. Aos poucos foi perdendo todos os movimentos do corpo até não conseguir mover mais nenhum membro, e seu estado de saúde tornou-se estável em 1997.

Jason Becker

Entretanto, enquanto ficava em casa, Jason continuou compondo e gravando em seu estúdio particular. Jason continua mentalmente ativo, se comunicando através de movimentos oculares e com a ajuda de um programa de computador, e o mais assombroso fato de força de vontade e paixão a Música: ainda compõe. Foi dessa forma que ele lançou o disco ‘Perspective’, em 1996. Jason ainda dá entrevistas e é muito bem-humorado, sendo assessorado por sua mãe. Vários tributos foram lançados em homenagem a Jason Becker, e ele é admirado e idolatrado por muitos em todo o mundo. Um desses tributos sai justamente do Brasil, o chamado ‘Heart of a Hero’, que é um projeto idealizado pelo site Guitar Clinic com o intuito de ajuda-lo. É possivel participar fazendo o download gratuito em Guitar Clinic além de contribuir financeiramente. Entenda melhor com o video seguinte:

Em resposta ao tributo, o próprio Jason Becker diz: “I am so touched and honored, my friend! How can I ever thank you enough? I have been listening to it for two days now; It is so fantastic! I am blown away by everyones’ tracks, not to mention their kindness. As I listen and think about it, I often have tears of gratitude and respect for you all.

No disco há grandes nomes da Guitarra Eletrica nacional como Kiko Loureiro, Rafael Bittencourt, Edu Ardanuy e mais. Abaixo a lista completa de Músicos e peças que integram o disco.

01 – Kiko Loureiro – Headstrong
02 – Rafael Bianzeno – Ok, 13!!!
03 – Rafael Nery – Inside my dying soul
04 – Bittencourt Project – The Underworld
05 – Edu Ardanuy – Alien Voice
06 – Lucas Fagundes – Viagem
07 – Rodrigo Rodrigues – Searching for new vibes
08 – Bruno Machado – In a Hurry to get there
09 – Marcelo Barbosa – Who’s the next
10 – Passamani – The Sword of the samurai
11 – Two Towers – Broken Stone
12 – Remove Silence – Fade
13 – Wanderson Bersani – Chromatology
14 – André Martins – Moccha
15 – André Hernandes – Parece o Sol
16 – André Sampaio – Going to Downtown
17 – Michel Leme – Servant of the Light

Jason Becker

Falando em discos, a discografia de Becker conta com verdadeiras obras primas, além de grandes nomes em parcerias. Em ordem cronologia:

1987 – (Cacophony) Speed Metal Symphony
1988 – (Cacophony) Go Off!
1988 – Perpetual Burn
1991 – (David Lee Roth) A Little Ain’t Enough
1996 – Perspective
1999 – The Raspberry Jams
2003 – The Blackberry Jams
2008 – Collection

A familia montou um documentario com arquivos pessoais, onde ainda é notavel uma fagulha de humor que Jason ainda carrega. Para mais informações Jason Becker oficial. Emocione-se então com a digna historia do ‘Not Dead Yet: The Story of Jason Becker’:

Recentemente Becker cedou uma a revista Guitar World. Algumas partes estão traduzidas logo abaixo.

Rep: Por causa das suas limitações físicas, a sua criatividade se expandiu em outras direções?

Jason: Eu me lembro quando estava começando a perder a hablidade de tocar licks rápidos e minhas mãos tremiam e caiam da guitarra. Isso me forçou a criar um novo estilo lento de tocar. Eu estava muito inspirado e gravei ‘Meet Me in the Morning’, do Bob Dylan. Então quando eu não podia tocar mais eu fiquei inspirado pelo mundo da música classica. Agora eu estou mais empolgado com a música indiana e pelo funk que é evidente no meu novo trabalho. Não estar apto para tocar faz com que você esteja apto para ouvir e entender melhor. A prática constante na guitarra pode ser legal, mas se desviar um pouco para a música universal dentro de você também pode ser.

Rep: O que te inspirou para comprar sua primeira guitarra? Qual foi?

Jason: Meu pai, tio e Bob Dylan me inspiraram a tocar. Meu pai era um ótimo violonista clássico. Ele teve aulas com um estudante de Andre Segovia. Meu tio é muito fã de Roy Buchanan. Eu amei tudo que eles fizeram. Para mim Dylan ainda é o mais legal e o maior, suas melodias e letras eram muito agitadas. No meu quinto natal na Terra (1974) me deram um violão, que eu ainda tenho. Meu pai tentou me ensinar algumas notas e a ler música, mas eu desanimei com aquilo. Um ano depois meu irmão ganhou um pequeno Xilofone de brinquedo. Papai ensinou para ele uma canção de Dylan, então eu disse: ‘ei, por que você não me ensina aquele som legal?’ Então ele me ensinou. Daí em diante eu passei a tocar e cantar todas as músicas do Dylan.

Rep: Jason, sua coragem e habilidade para tocar são irreais. Como você faz para manter seu alto astral?

Jason: Acho que a resposta mais curta para isso é que eu tenho amor à vida. Eu amo as pessoas e a mim mesmo. Eu sou amado e bem cuidado pela minha família, amigos e o guru Amma (Nota do Editor: Jason é discípulo do guru hindu Amma Mata Amritanandamayi Devi). Eu ainda estou apto para criar, mas num caminho diferente. Eu não quero falar sobre o ALS pois é tão ruim quanto o inferno (Nota do editor: ALS são as iniciais pelo qual é conhecida a Doença de Lou Gehrig, que acometeu o músico há alguns anos). Você não pode imaginar (bom alguns de vocês podem), mas dentro de mim houve uma transformação muito grande. Algumas pessoas pensam que como não posso me mexer estou vegetando. Errado. Só seja como você é, aguarde e se precisar de algo uma pessoa legal virá cuidar de você. Eu estou exagerando um pouco, mas é como eu enxergo a coisa. Eu tenho motivos de sobra para viver, tenho esperanças e sonhos. Eu não vivo a dor todo o tempo, eu dou risadas e brinco, faço música, escrevo, faço amor e festas. Tenho meu dias tristes como qualquer um.

Rep: Qual a lição mais importante que você recebeu de tantas horas tocando com Marty Friedman?

Jason: Foram muitas, principalmente ser você mesmo, ser único, não fazer o que já foi feito. Ele me ensinou muito sobre a beleza das harmonias e ritmos não convencionais. Ele criou um exercício que costumávamos fazer juntos. Nós tinhamos que ficar tocando solos e acordes, mas não tínhamos idéia do acorde que o outro iria tocar. Nós deviamos tentar fazer o solo parecer besta tocando os mais inesperados acordes que viessem à cabeça. O exercício sugeria que treinássemos para dar o bend até uma nota boa, e aprender frases esquisitas. Nossos ouvidos também se acostumariam com progressões interessantes, e então descobriríamos novas idéias legais para músicas. Todo dia eu aprendia algo novo com Marty. Você pode aprender muita coisa só treinando uma música dele. E eu fiz isso. Pra falar a verdade, eu não seria nada sem a sua influência. Ah sim, e ele me mostrou a música japonesa.

Rep: Como foi trabalhar com David Lee Roth? Vocês ainda têm contato?

Jason: Foi como uma explosão. Ele foi muito legal comigo. Ele sempre me elogiava mas não tinha medo de dizer se eu estava sendo um idiota. Ele é como o mais selvagem cachorro selvagem que você pode esperar, mas tem o seu lado calmo também. Ele conheceu uma garota legal em Vancouver e me perguntou como faria para conquistá-la. Ele é meio brincalhão mas tem um lado sério. Ele intercedeu em um atrito que tive com Bob Rock. Dave é muito diplomático. Todos os caras daquela banda me acolheram em suas asas, amo a todos. Eles sabiam que eu estava com problemas de saúde, todos compreenderam exceto dois, cujos nomes não vou mencionar – mas posso dizer que um deles é um empresário bem conhecido.

Jason Becker

Jason Becker nasceu em Richmond (Califórnia, Estados Unidos) em julho de 1969. Hoje com 42 anos, apesar do corpo fraquejar, a mente continua lucida, faiscante em novas composições. Artigo extenso para comentar uma das mais belas historias já ouvidas no meio musical.

Peace.